Certa vez, meu avô, ao ver um cachorro muito magro e doente, não se conteve e cheio de compaixão, escreveu:
Não deixe este cão morrer
(João Inácio de Lima)
Vê um cachorro caindo
A falta de alimento
Passando tanto tormento
Pelas calçadas pedindo
O dono ainda sorrindo
Não tem dó de ver sofrer
O bruto sem merecer
Procura fazer concórdia
Usai de misericórdia
Não deixe esse cão morrer
Olha que a caridade
É um dever de ser cumprido
Não deixe o bruto cair
Sem culpa e nem maldade
Ele pede por bondade
Um bocado pra comer
Para não esmorecer
Te pede este socorro
Protege este cachorro
Não deixe este cão morrer
Repara que este pobre
É preciso se tratar
Para ele não matar
Criação de gente nobre
Olha que com pouco cobre
Cumpre bem vosso dever
E não precisas perder
O que tens em cabedal
Socorre este animal
Não deixe este cão morrer
Te lembras se fosses tu
Que tivesses neste estado
Magro, triste e flagelado
Com fome, rasgado e nu
Em estado de urubu
Que leva a vida em sofrer
Esperando pra comer
Depois que um outro morre
Te lembras disto e socorre
Não deixe este cão morrer
Este cão é teu amigo
Nunca te fez falsidade
Não usa de crueldade
Com quem te salva o perigo
Viaja junto contigo
A fé livra o padecer
Se uma cobra te morder
Ele fica muito aflito
Te lembras desse delito
Não deixe este cão morrer
Este cão serve de guarda
Para atua habitação
Avisa quando um ladrão
Quer roubar de retarguarda
Ele está pronto, não tarda
Faz logo o ladrão correr
Somente pelo comer
Ele vive trabalhando
Dá-lhe o pão de quando em quando
Não deixe este cão morrer
Este cão é bom de caça
Mata onça e caititu
Peba, raposa e tatu
Enfrenta qualquer desgraça
Ele nunca se embaraça
No modo de proceder
Só não pode bem correr
Devido a necessidade
Não falte com a caridade
Não deixe este cão morrer
hás de dizer que ele ruim
Que nem a morte o consome
Mas não te lembras da fome
Que o pobre passa enfim
Nunca faças isto assim
Dá-lhe sempre o que comer
Ele sabe agradecer
O ato de caridade
Dai prova de humanidade
Não deixe este cão morrer
Repara para a magreza
Do pobre deste animal
Sem a niguém fazer mal
Sem poder fazer defesa
Quando a própria natureza
Vê a falta do dever
Deus disse: Dai de comer
Que hás de colher um bom fruto
Apesar de ser um bruto
Não deixe este cão morrer
Espero que meu pedido
Seja cumprido direito
Ficarei tão satisfeito
Se ver este cão nutrido
Gordo, zelado e punido
Cumprindo vosso dever
Para o povo não dizer
O que diz até agora
Peço por Nossa Senhora
Não deixe este cão morrer.