Antônio Piancó Sobrinho (meu pai)
O período de gestação de minha filha, Marília, coincidiu com os nove meses da doença do meu pai. Meu maior medo era perdê-lo, antes que ela nascesse.
Os dois últimos meses de sua vida, ele passou internado no hospital UNICORDIS-RECIFE. Não pude mais vê-lo, apenas nos falávamos por telefone, quando não estav em momentos de crise.
Ao completar dez dias do nascimento de Marília, ele partira sem chegar a conhecê-la.
Alguns meses depois, quando recebi os versos que el havia feito para ela, no hospital, procurei falar com ele nestes versos:
Minha agonia foi tanta
Quarta da Semana Santa
Corri com um nó na garganta
Quando alguém veio me dizer
Que mal estavas passando
Com dores te atormentando
friquei tris e lamentando
Ver-te, pai, adoecer
Idéia porém não tinha
Que notícia pior vinha
Tão pouco tempo continha
De vida pra desfrutar
Vida de um sentenciado
Numa cadeira sentado
Ou numa cama deitado
Sem mais poder trabalhar
Começou neste momento
Toda agonia e tormento
Sem cair no esquecimento
O nome de qualquer doutor
Fosse qualquer criatura
Na esperança da cura
Logo a nossa viatura
Veloz levava o senhor
Mas o mesmo coração
Que ama e tem afeição
Que nos faz ter compaixão
Mata sen ter piedade
Foi te matando aos pouquinhos
te levando por caminhos
E nos deixando sozinhos
A padecer de saudade
Com a morte travaste luta
longa, ferrenha e astuta
Como quem diz: "me escuta"
Não posso assim viajar
Restava algo a fazer
Esperava acontecer
Sua netinha nascer
Não a quis prejudicar
Assm nós dois caminhamos
Por nove meses lutamos
Vezes nos desesperamos
Vendo o fim se aproximar
Mas a tua resistência
Desafiava a ciência
Só eu tinha consciência
Do que estavas a esperar
Muitas vezes internado
E quando hospitalizado
Tu eras desenganado
Acabavas por voltar
Mas quando foste em novembro
Ah! meu Deus como eu me lembro
Foi se passando dezembro
Sem te ver mais regressar
Foram os dias se passando
O Natal se aproximando
Eu de ti só me lembrando
Com vontade de te ver
Só tua voz eu ouvia
e quando isso acontecia
Tinha tamanha alegria
Resava pra agradecer
Foi no dia de Natal
Data bem especial
Que fui para o hospital
E tive a minha filhinha
E foi com grande emoção
Mesmo com tanta aflição
que cumpri minha missão
E te dei mais uma netinha
Inda pedi a Jesus
Nesse momento de Luz
Que pelo poder da cruz
Me desse mais um tempinho
De colocar em teu braço
Para um derradeiro abraço
Meu pequenino pedaço
O meu lindo bebezinho
Mas , pai, como eu fiquei triste
Não deu tempo e tu partiste
Deixaste a terra e não viste
Meu presente de Natal
E assim na nossa família
Somente a minha Marília
Não desfrutou da vigília
De teu amor paternal
Resta um dia lhe dizer
Sem de nada me esquecer
Como aqui foi teu viver
Contar da tua bravura
Foste exemplo que enobrece
Que um filho jamais esquece
Ea toda hora enaltece
Teu nome em toda altura
Aqui te ti me despeço
Falei-te em forma de verso
Porque no meu universo
Me deixaste em confiança
Parte do meu sentimento
Que traduzo em pensamento
A dor do meu sofrimento
Nas rimas da tua herança.