PARA MEU PAI

10-11-2010 19:36

 

Antônio Piancó Sobrinho (meu pai)

O período de gestação de minha filha, Marília, coincidiu com os nove meses da doença do meu pai. Meu maior medo era perdê-lo, antes que ela nascesse.

Os dois últimos meses de sua vida, ele passou internado no hospital UNICORDIS-RECIFE. Não pude mais vê-lo, apenas nos falávamos por telefone, quando não estav em momentos de crise.

Ao completar dez dias do nascimento de Marília, ele partira sem chegar a conhecê-la.

Alguns meses depois, quando recebi os versos que el havia feito para ela, no hospital, procurei falar com ele nestes versos:

 

Minha agonia foi tanta

Quarta da Semana Santa

Corri com um nó na garganta

Quando alguém veio me dizer

Que mal estavas passando

Com dores te atormentando

friquei tris e lamentando

Ver-te, pai, adoecer

 

Idéia porém não tinha

Que notícia pior vinha

Tão pouco tempo continha

De vida pra desfrutar

Vida de um sentenciado

Numa cadeira sentado

Ou numa cama deitado

Sem mais poder trabalhar

 

Começou neste momento

Toda agonia e tormento

Sem cair no esquecimento

O nome de qualquer doutor

Fosse qualquer criatura

Na esperança da cura

Logo a nossa viatura

Veloz levava o senhor

 

Mas o mesmo coração

Que ama e tem afeição

Que nos faz ter compaixão

Mata sen ter piedade

Foi te matando aos pouquinhos

te levando por caminhos

E nos deixando sozinhos

A padecer de saudade

 

Com a morte travaste luta

longa, ferrenha e astuta

Como quem diz: "me escuta"

Não posso assim viajar

Restava algo a fazer

Esperava acontecer

Sua netinha nascer

Não a quis prejudicar

 

Assm nós dois caminhamos

Por nove meses lutamos

Vezes nos desesperamos

Vendo o fim se aproximar

Mas a tua resistência

Desafiava a ciência

Só eu tinha consciência

Do que estavas a esperar

 

Muitas vezes internado

E quando hospitalizado

Tu eras desenganado

Acabavas por voltar

Mas quando foste em novembro

Ah! meu Deus como eu me lembro

Foi se passando dezembro

Sem te ver mais regressar

 

Foram os dias se passando

O Natal se aproximando

Eu de ti só me lembrando

Com vontade de te ver

Só tua voz eu ouvia

e quando isso acontecia

Tinha tamanha alegria

Resava pra agradecer

 

Foi no dia de Natal

Data bem especial

Que fui para o hospital

E tive a minha filhinha

E foi com grande emoção

Mesmo com tanta aflição

que cumpri minha missão

E te dei mais uma netinha

 

Inda pedi a Jesus

Nesse momento de Luz

Que pelo poder da cruz

Me desse mais um tempinho

De colocar em teu braço

Para um derradeiro abraço

Meu pequenino pedaço

O meu lindo bebezinho

 

Mas , pai, como eu fiquei triste

Não deu tempo e tu partiste

Deixaste a terra e não viste

Meu presente de Natal

E assim na nossa família

Somente a minha Marília

Não desfrutou da vigília 

De teu amor paternal

 

Resta um dia lhe dizer

Sem de nada me esquecer

Como aqui foi teu viver

Contar da tua bravura

Foste exemplo que enobrece

Que um filho jamais esquece

Ea toda hora enaltece

Teu nome em toda altura

 

Aqui te ti me despeço

Falei-te em forma de verso

Porque no meu universo

Me deixaste em confiança

Parte do meu sentimento

Que traduzo em pensamento

A dor do meu sofrimento

Nas rimas da tua herança.

  

 

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