RELEMBRANDO MEU PAI

07-11-2010 02:21

 

Antônio Piancó Sobrinho (Meu pai, in memoriam)

 

I IV
O bravio matuto sai da roça Mas um dia a "eterna namorada"
Pra tentar seu destino na cidade Sem seu dono ficou e entristeceu
Se depara à cruel realidade A caldeira esfriou, emudeceu
Inda assim não recua à sua choça Esperando por outro ser tocada
Lhe tirar o sabor não há quem possa Quando um dia soar sua toada
De gozar todo dom que Deus lhe deu Certamente o apito é de saudade
Foi assim que um dia escreveu A chorar o pesar da orfandade
PIANCÓ como nome de história A sentir o pegar de mãos estranhas
Fez na luta, o trabalho a sua glória Assistindo queimar suas entranhas
Em todo tempo que aqui permaneceu Sem ter-lhe amor e sem dizer-lhe nada
II V
Incansável faminto do labor E a tua terra, o que aconteceu?
Abraçando a qualquer dificuldade Por ela então tu não foste um varonil?
Sem cursar a nenhuma faculdade Te desdobraste em trabalhos mil
Deu lições de mestrado ou doutor Mas esta ingrata não reconheceu
Foi na vida um eterno vencedor Nem gratidão te ofereceu
Nos seus feitos marcados de valia Por tantas roupas que hoje a ela veste
Passo a passo sozinho construia E a liberdade que a ela deste
Toda a obra que ao nome deu renome Na grande luta da emancipação
Que a mais vil das invejas não consome O homem público trabalhara em vão
Esta mente que Deus iluminou A terra amada dele se esqueceu.
III  
Era a Fábrica o que mais o orgulhava  
Pois a tantos serviu humildemente  
Quem não lembra o sorriso incandescente  
Quando a velha caldeira apitava  
No semblante porém não disfarçava  
O cansaço de tantas madrugadas  
De tarefas braçais realizadas  
Pois ficar a olhar não se continha  
Quanta força e coragem ele tinha  
Quão bonito era o que realizava  

 

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