Antônio Piancó Sobrinho (Meu pai, in memoriam)
I | IV |
O bravio matuto sai da roça | Mas um dia a "eterna namorada" |
Pra tentar seu destino na cidade | Sem seu dono ficou e entristeceu |
Se depara à cruel realidade | A caldeira esfriou, emudeceu |
Inda assim não recua à sua choça | Esperando por outro ser tocada |
Lhe tirar o sabor não há quem possa | Quando um dia soar sua toada |
De gozar todo dom que Deus lhe deu | Certamente o apito é de saudade |
Foi assim que um dia escreveu | A chorar o pesar da orfandade |
PIANCÓ como nome de história | A sentir o pegar de mãos estranhas |
Fez na luta, o trabalho a sua glória | Assistindo queimar suas entranhas |
Em todo tempo que aqui permaneceu | Sem ter-lhe amor e sem dizer-lhe nada |
II | V |
Incansável faminto do labor | E a tua terra, o que aconteceu? |
Abraçando a qualquer dificuldade | Por ela então tu não foste um varonil? |
Sem cursar a nenhuma faculdade | Te desdobraste em trabalhos mil |
Deu lições de mestrado ou doutor | Mas esta ingrata não reconheceu |
Foi na vida um eterno vencedor | Nem gratidão te ofereceu |
Nos seus feitos marcados de valia | Por tantas roupas que hoje a ela veste |
Passo a passo sozinho construia | E a liberdade que a ela deste |
Toda a obra que ao nome deu renome | Na grande luta da emancipação |
Que a mais vil das invejas não consome | O homem público trabalhara em vão |
Esta mente que Deus iluminou | A terra amada dele se esqueceu. |
III | |
Era a Fábrica o que mais o orgulhava | |
Pois a tantos serviu humildemente | |
Quem não lembra o sorriso incandescente | |
Quando a velha caldeira apitava | |
No semblante porém não disfarçava | |
O cansaço de tantas madrugadas | |
De tarefas braçais realizadas | |
Pois ficar a olhar não se continha | |
Quanta força e coragem ele tinha | |
Quão bonito era o que realizava |