Agumas homenagens e recordações de amigos ao meu inesquecível pai, muito me emocionaram pela maneira carinhosa com que lhe foram dirigidas, por isso quero aqui deixá-las registradas.
Dr. Honório, um grande e querido amigo da família, por ocasião do sepultamento do meu pai, no dia 06 de janeiro de 1991, fez o seguinte pronunciamento:
Meus Amigos:
Eu devo neste momento a Itapetim, uma palavra e um testemunho. Uma palavra de solidariedade à família de Antônio Piancó Sobrinho. Uma palavra de solidariedade ao povo de Itapetim, terra que vivia no coração deste homem simples, mas um homem de uma grandeza de alma incomensurável.
Eu sinto, meus amigos, que Itapetim hoje é uma só voz para dizer bem de Antônio Piancó .
Itapetim hoje é uma só alma, magoada com sua partida. Itapetim é um coração conservando o mesmo sentimento de tristeza que se abateu sobre sua esposa, D. Rita, sobre seus filhos, sobre seus irmãos, sobre seus genros, sobre seus netos e sobre seus amigos.
Mas eu dizia que nesse momento era devedor de uma palavra a Itapetim e também de um testemunho.
O testemunho que eu tive a oportunidade de construir durante mais de quinze anos em que conheci Antônio Piancó e desde mil novecentos e setenta e cinco, nós nos ligamos através de uma amizade que foi se consolidando dia-à-dia e eu devotava a ele uma admiração profunda.
Admiração pelo homem correto, admiração pelo pai extremoso, admiração pelo avô que acariciava, com tanta alegria e com tanto sentimento, a cabeça dos seus netinhos.
E ontem, meus amigos, quando cheguei à Itepetim, vi um quadro verdadeiramente emocionante: aquelas crianças, aqueles netos, dos menores aos maiores em derredor do caixão, passando a mão nas mãos e na cabeça de um corpo inerte, na cabeça e nas mãos do seu avô, que havia partido.
Mas, nele, em Antônio Piancó, não se extinguiu o sopro de Deus.
A sua alma voou, o seu corpo aqui está, vai ser sepultado, mas a nossa crença nos afirma que ele hoje vive o momento de recompensa junto a Deus.
A recompensa da fé que teve, da esperança que o alimentou e do amor que dedicava à sua família e a lealdade aos seus amigos, o amor telúrico à sua terra, que ele desejava ser grande, progressista, desenvolvida.
Eu tenho certeza, meus amigos, que nesta hora a voz não é apenas de Itapetim.
A voz é de todo lugar que Antônio Piancó deixou amigos. A voz é da Região do Pajeú, sentindo a sua falta, lamentando a sua ausência.
Mas nós vivemos de fé. Nós saímos agora da Igreja, onde foi celebrada a missa em sufrágio da sua alma.
A Igreja de São Pedro, que ele venerava; a Igreja que estava diante dos seus olhos na paisagem da manhã, da tarde e da noite, porquanto morava bem perto dela; a Igreja do Pe. João Leite, de quem tanto falava e que tanta influência exerceu em sua vida; a Igreja da fé; a Igreja , que era para ele um dos sinais maiores desta Itapetim, que ele tanto amou.
Meus amigos, estamos diante de um corpo inerte, de um corpo sem vida, mas de um corpo que foi instrumento de uma alma nobre, de uma alma desprendida, de uma alma que soube dizer a todos uma palavra de animação, uma palavra que era sempre a palavra amiga, a palavra que não tinha interesses maiores, senão o interesse maior de ajudar.
Privei da amizade de Antônio Piancó Sobrinho.
Conheci muito de perto a sua personalidade marcante. O homem criterioso, o homem de retidão de espírito, o homem reto, o homem grande, embora de estatura menor, de corpo franzino, mas um homem grande, de um coração bem maior ainda.
E nesta hora de pranto, nesta hora de dor, nesta hora da minha palavra, neste instante, nesta hora do meu testemunho, eu só tinha uma coisa a dizer a mais: era que a família de Antônio Piancó Sobrinho, saiba se unir em torno da mensagem de vida e do exemplo que ele deixou.
Saiba se unir em torno de D. Rita, para que a memória, os feitos e a vida de Antônio Piancó tenham continuidade nos seus filhos, nos seus genros e na sua nora.
Tenham continuidade nos seus netos, nestes que são sementes e que haverão de crescer.
Meus amigos de Itapetim, nesta hora de pranto, nesta hora de dor, elevemos nosso pensamento para o alto, para o céu e para Deus, neste dia que é o dia da Epifania do Senhor, o dia da manifestação de Jesus Cristo e Ele fez para a casa do Pai, aquele caminho da volta, o caminho da fé que nos conforta e que nos diz:
Vamos caminhar, vamos continuar a obra de Antônio Piancó Sobrinho, querendo bem a essa terra que ele tanto amou, como já disse, querendo o trabalho a que ele foi tão dedicado, querendo o progresso, querendo o desenvolvimento, querendo sobretudo o aconchego da sua família.
Quantas e quantas vezes, visitando-o no hospital, no leito, digamos assim, da dor e do sofrimento, eu o ouvi dizer: “Ah! Dr. Honório, eu queria meus filhos todos reunidos!”
Era este o seu sentimento. Sentimento de amizade, do aconchego, do carinho em torno dos seus filhos, daqueles que eram um pedaço da sua vida e um pedaço da sua alma.
Um homem leal aos seus amigos. Um homem que não tinha ódios. Um homem que não guardava ressentimentos. Um homem de alma aberta. Um homem de coração generoso.
Esse homem que não precisa que eu diga à Itapetim, toda tapetim e toda Região do Pajeú, conhece e guardará a memória, a memória viva, a memória que não morre, a memória sempre presente de Antônio Piancó Sobrinho.
Que Deus o receba e que a graça do Senhor conforte todos nós.
Meus amigos, muita paz, muita serenidade, muita solidariedade, muita fé, muita esperança.
E que ele peça a Deus, nesta hora de dor e luto para todos nós, que Deus nos abençoe.
E a Mãe Santíssima, a Mãe Santíssima de todos nós, receba Antônio Piancó e o apresente de junto do grande Altar de Deus, o Senhor de todas as vidas.
Itapetim, 06 de janeiro de 1991,
Honório de Queiroz Rocha
No dia 05 de janeiro de 1992, ao completar um ano de ausência de Antônio Piancó, o Dr. Honório Rocha, mais uma vez nos emocionando, enviara o seguinte telegrama:
Dona Rita Piancó e família
Sobretudo nestes dias, recordo-me do velho e querido amigo, Antônio Piancó, cujo maior legado à família e aos amigos foi a dignidade de uma vida simples e sempre voltada para os interesses da terra que lhe guarda os restos mortais.
Por tudo isto, vejo-o vivo e vigilante.
Deus nos conceda muita esperança e fé e a ele a paz eterna.
Cordial abraço.
Honório Rocha
Em nome dos alunos do Colégio Municipal, instituição criada por Antônio Piancó, quando foi prefeito desta terra , por ocasião da missa de sétimo dia de sua morte:
Nesse instante, dirijo-me ao Deus maravilhoso, Pai de todas as nações e ao Mestre de todos os mestres, em forma de agradecimento coletivo e afirmação da verdadeira essência de Deus.
No primeiro Livro da Bíblia, consta que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, isto é, uma cópia de Deus colocada neste mundo. Deus é existência que transcende os mundos de qualquer dimensão.
O homem foi criado num mundo onde há limitação de altura, comprimento e largura, além da limitação imposta pelo fator tempo. Mesmo assim retrata tal e qual a imagem de Deus. Por isso o homem é perfeito, é bom e belo. Deus considerou bom tudo que Ele criou, inclusive o homem. Consequentemnte o homem verdadeiro é imune ao mal, a defeitos e até a morte; ele é perfeito e harmonioso desde a origem.
Contemplando a essência que está no âmago dos fenômenos visuais, verificamos que a morte não existe. Os fenômenos materias mudam e se transformam atravás do tempo. Transformar significa desaparecer a forma anterior para dar lugar a uma nova forma. Só desaparece o que não existe de fato, o que inexistia desde o princípio. Para que se desesperar com aquilo que não existe? Contemple sempre o que existe de eterno nos fenômenos efêmeros!
Essa eternidade sim, é o que existe de fato, é o seu EU verdadeiro. E o filho de Deus, é imperecível, é você, sou eu que agora estou nos braços de Deus. Para o EU verdadeiro não existe velhice nem morte.
Quem despertou para a verdade contempla a perfeição da essência, transcende os fenômenos viuais. E, aos poucos, concretiza a perfeição da Essência e só parte desse mundo após cumprir sua missão.
Acreditando firmemente nessa verdade, Deus maravilhoso, e representando uma comunidade inteira de educandos, fervorosamente te peço: Concede-nos um intercâmbio entre nós que ficamos na terra e o nosso querido irmão ANTÔNIO PIANCÓ, que deixou o mundo carnal e partiu para a perfeição do mundo da essência espiritual.
Pai maravilhoso, acreditamos que nesse momento, ele nos escuta e recebe o mais afetuoso agradecimento de nós, alunos do Colégio Municipal, pela contribuição prestada a todos os filhos da sua amada Itapetim, na construção da nossa Casa de Educação.
Ao senhor, que permitido por Deus, nos escuta, o nosso fiel agradecimento e a nossa sincera saudade.
Que Deus lhe abençoe onde esteja e muito obrigada por um dia ter existido entre nós.
Professora Sívia Costa
Em nome dos alunos do Colégio Normal
Num mote que havia sido dadp por Antônio Piancó, o poeta Pedro Amorim, enviou-me o verso:
Foi Antônio Piancó
Quem nos mostrou no espelho
Exemplo do Mar Vermelho
No tempo de Faraó
Que com um cajado só
Pode a água separar
Mandou seu povo passar
Mas Faraó se afogou
Só Moisés atravessou
De pés enxutos no mar.